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O Bom Jardim é um bairro que possui 0,194 de Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), de acordo com a pesquisa “Desenvolvimento humano, por bairro, em Fortaleza” que foi apresentada em 2014, e ocupa a 104º posição no ranking dos números de IDH dos bairros da Capital. Em 2017 foram registrados 31 assassinatos de adolescentes no bairro, ações de projetos do CDVHS lutam para mudar essa realidade.    

Resistir para Florescer: A luta para mostrar o melhor do Bom Jardim

Por: Larissa Pacheco

Encravado no meio do Bom Jardim, em um prédio com alguns problemas estruturais aparentes, fica o Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS). Com mais de 20 anos de existência, o lugar tem uma trajetória marcada por lutas comunitárias para minimizar problemas sociais que afligem habitantes da Região.

 

“As nossas primeiras lutas foram por direito a educação. No início as escolas do território, além de serem poucas, não recebiam as crianças sem registro. A grande primeira luta foi garantir o registro das crianças e consequentemente o acesso à educação”, relembra Edivânia Marques, geógrafa que atua como assessora técnica do local.

 

Posteriormente, o acesso à moradia, a luta pela regularização fundiária, por saneamento básico e outras questões entraram na pauta do CDVHS.

 

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Edivânia e mais de 20 colaboradores trabalham no local sobre a perspectiva de não aceitar as violências que a comunidade passa, principalmente a juventude. A luta por direitos ganha forma na série de projetos que o CDVHS põe em prática e que são gratuitos. Atualmente, cinco estão em atividade e trabalham em eixos que vão do direito à resistência.

 

Um dos carros-chefe é o Jovens Agentes de Paz (JAP). Criado em 2010, o projeto se inicia para combater os altos índices de violência entre os jovens da comunidade, começando pelo trabalho de formação e engajamento em escolas públicas do Grande Bom Jardim a partir de rodas de conversas e oficinas.

 

O JAP é uma ação que visa dialogar com a juventude em quatro grandes ciclos: “Ser jovem; ser das áreas, na perspectiva do direito à cidade; ser um jovem agente de paz, e sobre ser livre, que é a capacidade de se articular depois de todas as discussões que fizemos”, comenta a assessora.

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Os programas do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) são divididos em quatro temas: Direito à Cidade, Vida da Juventude, Educação em Direitos Humanos e Resistências Culturais.

Atualmente, seis escolas recebem o projeto que atende jovens na faixa de 14 a 18 anos em média.

 

“O CDVHS é uma instituição que mexe com várias lutas. Por exemplo, nós fazemos parte do JAP, nós fazemos parte da luta da juventude, mas a juventude também estava na luta pelo meio ambiente, na luta por moradia”, complementa Wilbert Santos, um dos jovens que atuam no projeto.

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Uma extensão do JAP é o recém criado Festival das Juventudes - Arte, cultura  e formação em Direitos Humanos, onde os jovens participam de atividades de formação, discussão e apresentam suas expressões artísticas e culturais. “Para potencializar a ação de formação e intercâmbio (que acontecia nas escolas), resolvemos juntar numa mesma atividade que é o festival”, conta Caio Feitosa, sociólogo e um dos assessores técnicos do projeto.

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Uma outra grande ação dentro do Centro é a Escola Popular de Educação em Direitos Humanos (EPEDH), que forma militantes sociais comunitários em defesa dos direitos humanos. O público é formado por atores sociais como os líderes comunitários e professores, grupo que compôs a última turma. “(O objetivo) é formar essas pessoas constitucionalmente, compreendendo seus direitos, e tem como prioridade o movimento popular”, diz Edivânia.

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Esse trabalho reverbera na comunidade por meio dos jovens, que se descobrem enquanto sujeitos de resistência diante de tanta negação. “No CDVHS foi por onde eu conheci o que era política, o que era diversidade, onde eu me encontrei como uma jovem de periferia, onde eu vi que meus direitos eram negados”, conta Vitória Carolina Ximenes, jovem que também frequenta o Centro.

A EPEDH vem atuando desde 2012, oferecendo cursos de longa e curta duração. Suas ações são realizadas tanto na periferia de Fortaleza como no interior do Estado, a exemplo disso a  IV edição do Curso formativo de Defensores Populares dos Direitos Humanos foi realizada em junho deste ano em Iguatu.

Segundo dados do relatório Cada Vida Importa realizado pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, em 2017 foram assassinados 981 jovens, entre 10 e 19 anos de idade, no Ceará. O perfil das vítimas atingidas por essa violência é constituído em sua maioria por jovens negros, do sexo masculino e que moram em periferias urbanas.  

No final de 2017, o CDVHS se aprofundou em mais uma luta que é a discussão sobre o extermínio da juventude. Assim foi criado o projeto Vivo Cidadania, que tem apoio do Fundo Estadual para a Criança e o Adolescente. Antes dele, o Centro tentava dar voz a essa problemática por meio de Marchas pela Vida, que ainda acontecem.

 

"Foi pensado para tentar se aproximar de jovens em condições de risco ao homicídio ou ameaçados de morte, no sentido que a gente faça a prevenção focalizada desse homicídio. [...] O alvo são jovens que têm proximidade com arma, que tenha passado pelo sistema socioeducativo, que ao invés de melhorar a vida dessas pessoas, piora e estigmatiza, que estão em evasão escolar, que estão em situação de trabalho precário", comenta Caio.

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Em suma, o que o Centro almeja é a defesa das vidas em sua diversidade e, através do trabalho com a comunidade, mostrar uma outra realidade periférica que não ganha as capas dos jornais. “A juventude precisa de projetos assim para ocupar mais a mente e ajudar no futuro, porque muitos têm talento, mas não sabem como usar”, aponta David Mendonça, jovem da comunidade que participa das ações do Centro.

 

Para a assessora, é a força de resistência que vai mudar o quadro social que tem ceifado a vida das pessoas na periferia. “Estar nesses espaços para construir a cultura é uma das questões que nos faz acreditar que as coisas boas ainda pulsam nesse território e a gente tem como manchetar outras coisas que não a violência. [...] Se há um problema social, todos nós temos responsabilidade de contribuir para uma sociedade mais justa.”, conclui Edivânia.

expediente

Texto
Larissa Pacheco, Nataly Andrade

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Imagens
Caterine Araújo, Bárbara Castro

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Edição de imagem 

Caterine Araújo

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Design Gráfico 

Calebe Rodrigues

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